Depois de gastar R$ 25 milhões em obra faraônica, prefeita de Morro do Chapéu admite que Avenida Joel Modesto foi mal executada
Depois de dois anos de anúncios, promessas e transtornos, a prefeita de Morro do Chapéu, Juliana Araújo, reconheceu publicamente que a tão propagada requalificação da Avenida Joel Modesto foi mal executada. Em vídeo publicado nesta sexta-feira (8), a gestora afirmou que a empresa responsável foi notificada e que a obra terá de ser refeita, confirmando, na prática, que a execução, avaliada em R$ 25 milhões, apresentou falhas graves de planejamento.
O vídeo, que foi postado na rede da gestora, chamou atenção pela insegurança da prefeita durante a fala, gaguejando, hesitando e tentando justificar o injustificável. Em determinado trecho, Juliana diz ter solicitado à empresa o relatório físico e financeiro da obra, algo que, segundo especialistas, deveria ter sido exigido antes da execução, e não depois da entrega de uma obra malfeita. A fala gerou ainda mais revolta entre os moradores e comerciantes locais, que amargam prejuízos e transtornos há quase dois anos com os sucessivos problemas.
A Avenida Joel Modesto, localizada no centro da cidade, foi apresentada como um símbolo de modernização e desenvolvimento urbano. No entanto, a realidade é de materiais de baixa qualidade, problemas de acessibilidade, iluminação precária e um canteiro central mal projetado, que já se tornou alvo de críticas desde o início da obra.
Em julho deste ano, o Diário Oficial do Município já havia publicado uma notificação formal da Prefeitura à empresa contratada, reconhecendo falhas na execução e solicitando correções, um documento que, segundo analistas, evidencia a falta de fiscalização e de acompanhamento técnico durante o processo.
A revolta cresceu depois que vídeos circularam nas redes sociais, mostrando a qualidade duvidosa dos materiais utilizados na pavimentação. O engenheiro civil de Morro do Chapéu, que analisou o projeto, apresentou cálculos que reforçam a gravidade do desperdício.
“A Avenida Joel Modesto possui cerca de 1.300 metros de extensão por 15 metros de largura, totalizando 19.500 metros quadrados. A obra custou cerca de R$ 25 milhões, o que representa R$ 1.280 por metro quadrado”, explicou.
“Segundo o Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAP), o custo médio do asfalto quente, incluindo subbase e base, é de cerca de R$ 120 por metro quadrado. Já o piso intertravado de concreto custa aproximadamente R$ 95 por metro quadrado. Ou seja, com o mesmo recurso seria possível asfaltar 10 avenidas do mesmo porte.”
Agora, resta a pergunta que ecoa entre os moradores e comerciantes prejudicados: quem vai devolver o dinheiro do povo? Quem vai responder pelo maior desperdício de recursos públicos da história de Morro do Chapéu?
A situação se torna ainda mais delicada diante do fato de que o município esteve recentemente envolvido em repasses de verbas e emendas parlamentares de um deputado investigado pela Polícia Federal, o que levanta ainda mais dúvidas sobre a origem e a destinação de recursos aplicados na cidade.